domingo, 12 de dezembro de 2010

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

domingo, 26 de setembro de 2010

Roland Barthes: “A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para corrigir essa distância que a literatura nos importa” (1977)

sábado, 18 de setembro de 2010

Alguém já se embrenhou no profundo da noite? Como animal rasteiro que deseja umidade da terra? Como ruído denso atravessando silêncio escuro? Como sangue jorrando de estrela cadente? A noite me encavernou. Se apropriou de meus dentes brancos e sorriso tímido. Turvou minha pele amarelada pelo tempo como livro velho. Desfez o cabelo penteado e preso acima do pescoço. Rangeu sombrancelha triste. Levou cores de doídos amores. Deixou-me mais só do que abandonada. Cruzou meus braços e pés cansados. Fez correr lágrima salgada de olhos doces e fechados. Botou-me a dançar extraviada, sons estranhos e insabores. Fiquei impressentindo profundo negro celeste. De repente virei luz.

domingo, 25 de julho de 2010

domingo, 11 de julho de 2010

Aos saltimbancos amigos!!!! Sempre bom relembrar...

Todos Juntos Os SaltimbancosComposição: Enriquez - Bardotti - Chico Buarque Uma gata, o que é que tem?- As unhas E a galinha, o que é que tem?- O bico Dito assim, parece até ridículo Um bichinho se assanhar E o jumento, o que é que tem?- As patas E o cachorro, o que é que tem?- Os dentes Ponha tudo junto e de repente vamos ver o que é que dá Junte um bico com dez unhas Quatro patas, trinta dentes E o valente dos valentesAinda vai te respeitar Todos juntos somos fortes Somos flecha e somos arco Todos nós no mesmo barco Não há nada pra temer -Ao meu lado há um amigo Que é preciso proteger Todos juntos somos fortes Não há nada pra temer Uma gata, o que é que é? - Esperta E o jumento, o que é que é?- Paciente Não é grande coisa realmente Prum bichinho se assanhar E o cachorro, o que é que é?- Leal E a galinha, o que é que é?- Teimosa Não parece mesmo grande coisa Vamos ver no que é que dá Esperteza, PaciênciaLealdade, Teimosia E mais dia menos dia A lei da selva vai mudar Todos juntos somos fortes Somos flecha e somos arco Todos nós no mesmo barco Não há nada pra temer - Ao meu lado há um amigo Que é preciso proteger Todos juntos somos fortes Não há nada pra temer E no mundo dizem que são tantos Saltimbancos como somos nós.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Resposta ao descabido

O texto não vem forçado. O texto força. Ele é força e é forjado. Ele dorme primeiro. Se alimenta, depois. Precisa de fazer amor e reabastecer-se. Ele cultiva hortelãs. Ele irrompe, emerge, flutua. Ele fisga. Ele não pertence. Ele co(n)tem. Ele se ata, desata, desatina. O texto tinta tudo de cores ocres. Ele pulsa, desassossega, briga. Lambe e beija molhado. Ele aparece quando bem quer. Escreve carta, entrega, toma. Rasga. Futuca a casa, derrama vinho, incendeia vida. Debruça-se na janela. Estende-se à rua. Depois de feito, pronto se enrijece, envaidece, some. Barro vermelho de espinha-homem. Se mergulhado, o texto força. Se acordado, ele sonha. Se endereçado, multiplica. Se delirante, o texto ama..

terça-feira, 6 de julho de 2010

Ao tempo deusa

Inversão generosa do tempo em mulher. Mulher devir de vento em crina.... em dançantes piruetas. Assinala outros modos.... modifica temporalidades. Quer crescer e desdobrar-se.... revirar-se.... espreguiçar-se.... Amorosamente: render-se! De renda em renda.... de passo a passo.... imprimir novos ritmos. Musicais compassos. Agenciada pelo vago, fortuita, inteira destina-se aos dissidentes. Conclama os revoltosos. Suscita os anormais. Exclama por toda parte que é chegada aurora rubra. Pode-se incidir sobre antigos regimes: torcê-los! Quebrá-los! Vingá-los! Seu convite - manso feito cosmo e lua – põe a andar e voar cavalgadas oníricas... Não está só. Uma deusa sempre aliança parceria em baile. Todos dançam. Todos querem. Todos desejam. Não se abandonam aos fascistas e despóticos reinados: recusam subjetividades manufaturadas. .... mulheres-devires: vão de poupa em vento! Rompem barreiras rijas como gelo que se derrete. E como água escorrente forjam nascentes, olhos d’água até os lagos e rios mapas. Pode-se navegar por qualquer gota dessas. Os espaços comportam embarcações de todo porte.... de toda arte. Feito papel machê, meu barquinho segue prumo de passarinho-água.... nele cabe desejo cindido, vaporoso... mendigo. De qualquer forma que se segue, se arrebenta rios em cursos. E desses, esvaem-se outros.... outros tempos.... outras formas.... outras fontes. De que fonte nasce o desejo? Senão disso? Baile em vôo?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Carta empoeirada

Para Ruth! Ei amiga,que sucesso!!!!!! Fica-me a "leve impressão de incesto"acho que é porque somos tomados pelas suas palavras. Transformei-me em Joaozinho ao lê-las. Somos joão'S, maria'S e josé'S.... "E agora, José? E agora você? E agora eu?" Toca-me em especial a "vida atrevida e pulsante" fazendo "dilatar as pupilas e rolar sangue em correria". Pra que ninguém se deixe inerte e pobre e longe: Todos "não sabemos, não entendemos". Podemos ficar loucos de "cadeia"s..... Sim! Brindemos as alianças poéticas: talvez elas nos salvem!!!! Quem sabe tornando-nos "viventes desejantes de si". Amei querida. Obrigada. Ah.... claro! cafezim tá de pé.... bjos.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Missiva pra pedir colo

Escrever o tempo é partido impossível.
Disse ela que a liberdade ofende. Mas acho que felicidade também.
Medo dos entremeios, nem a vida cabe de ditar.
Dos mudos que não cessam de falar
dos surdos que não param de ouvir calunias
da vida réstia que a tristeza congelou
estamos cheios do etecetera.
Fazer caber um pouco d'água no deserto
não era pra ofender tanto.
Mas uma reparou que amor nos olhos
marcam solos. Terra molhada de lagrima e chorinho menino.
Abandono de sereno não rega flor pequena e frágil.
Suas raízes podem ser mais fortes.
E se for só impressão?
E se a entre-flor for só ilusão?
E se aurora desfizer réstia de sol e naufragar-se no campo, de tanta luz?
Inda sim, abririam caminhos?
Tenho medo, confesso.
Minha costura de farrapos não sai toda vez de estilo.
Nem sei costurar....
Carta pra socorro das horinhas difíceis
é plantinha que nasce pequena esperando calor.
Hoje e tantos dias tenho medo.
Ele passa, mas devora.
Sei,
ninguém pode salvar-me.
Já esperei tantas vezes.
Nem é isso que quer meu desejo impune.
É só um pouquinho de colinho.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Resposta ao amor

A cada mísera letrinha, esvaneço de sentir. O sentimento não cabe no corpo, nem na alma. Por isso, entrecampos, sai a jorrar água dos olhos. Mas é água do mar que socorre-me a pequeniz. Em teu mar grande, palavras pequenas, escorregam pelos dedos, e, são belas. Perder-se é só um meio de encontrar-se. Tenhamos coragem.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Rosas brancas e camomila

Naqueles dias, andava rodopiando pensamentos venosos.

Corria em seu sangue, delírios de guerra.

Austera, preocupada, frágil que nem pétala ao vento.

Alcançavam-lhe a mente,

tantos tilintares,

que zuniam seus ares, pelas terras roxas de sol.

Não queria creditar em idéia que não era sua.

Mas a outra, a invadia.

Achou de contar o tempo.

Tempo de vida.

Como se soubesse.

Como se, os números, pudessem traduzir sonhos.

Não, não podem.

Quis sair dali e vaguear... mas o carnaval já havia passado e, a semana, era santa.

Viu-se tão tordoada,

que bradou pedir socorro praqueles que iam ao longe,

seguindo aurora cotidiana.

Pobre. Ninguém a ouvia.

Pensou: já estou morta?

Foi quando, repente, indagando-se sobre o sentido da vida,

pelo avesso do avesso do avesso

resistiu.

E uma voz mansinha disse-lhe sem pressa:

Querida, faça um chá de rosas brancas e camomila.

sábado, 22 de maio de 2010

Segredo popular

Já dizia vovó, “nem tudo que reluz é ouro”.
É como comprar gato por lebre, outros avisaram.
Porém, curioso: onde ficou a rachadura?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Alma-letra

Escrevo por necessidade.
Necessidade de vivificar-me a letra.
Pela letra contorno
o mundo e os vazios
(...) e os avessos.
Não tem apelo poético
mais que rítmico.
Necessidade musical.
Alma-letra
absolutamente dispensável
por isso mesmo necessária.

"REGIÃO DE RESPIRO"

Um fora se coloca
em minhas dobras.
Não há como pretender tudo.
O escape disruptivo
levanta poeiras e errâncias.
Mas ainda é por onde respiro.
Pelos poros.
Para Leila.

VERTIGEM

Em campo ressonante
a parabólica produz vertigem.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ritornelo

Nele pode caber tanto rito?
Torna ele o rito inesperado?
Retorna o sempre diferentemente interrompido?
E se a música alçar vôo?
Quem poderá dizer que não tenho asas?

Habito

Habituei-me ao teu corpo.
Vesti hábito austero tantas vezes. Religioso.
Mas habitar em ti, transforma-me.
Para Ricardo.

A cidade, o corpo e o carteiro

Carteiro mande entregar nas ruas
panfletos que incitem o corpo livre.
Subverta os endereços da cidade.
Espalhe a boa nova de um lugar de escritas viscerais.
Um lugar em que as casas percam seus muros;
em que os corpos sejam escritas dançantes.
Que a cidade campo se torne;
e que o campo produza cartas.
Vem carteiro:
podes vir a qualquer hora!
Na rua estaremos em ciranda
e podes entregar-nos Neruda.

domingo, 25 de abril de 2010

"CARACA... nem a poeira quer ficar aqui!!!" De Ruth.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

O tempo das coisas

Que tempo marca as passagens? Que passagens produzem visões? Que visões abrem novos caminhos? Por quais caminhos a alma se abre? Qual abertura provoca o pensar? Qual pensamento produz a vida?

Ponha sua alma na janela

Ponha sua alma na janela. Peça-a para voar entre-campos. Leia para ela os livros não visitados. Leva-a ao museu. Alimente-a. Musicalize-a. Mantenha-a livre tanto quanto possível. A alma não carece de gaiola. Ela carece de beleza.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Reverberações

Da feitura da vida

A obra é puro exercício.

Labor diário de costurar

Fio a fio

Entreabertos

Para novas andanças.

Reverbera-se o verbo, sempre

Dele inscreve-se

Palavras aos fios

E destes,

Uma resistência acontece.

Segue

Que rupturas se dão em curso.

Detenha-te apenas

Salvos momentos

Quando vislumbrares surpresas.

Que viver não requer força nem hábito.

Viver é delicadeza e corte.

Cartesianamente reconheço-me por ora.

Isso produz em mim franca tristeza.

Mas como ora desfaleço

E rompe no mundo

O cotidiano que amanhece

Admito sem esforço,

Lispectorianamente: “não sei fritar ovos”.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Gafanhoto

Se é praga, a mim não parece.
Mais descansado e devaneado estava.
Dentro da noite quente, somente ele rezava.

Aos amigos e estrangeiros

Àqueles que dizem

descontinuidades........

sejam bem-vindos.

Àqueles que trazem novidade

nas ventas,

entrem.

Àqueles que sabem sonhar

apesar do calor:

venham.

A casa é essa.

Quanto mais partida,

mais encontram-se multiplicidades.